domingo, 29 de janeiro de 2012

Recuerdos...

el jueves, 8 de septiembre de 2011 a la(s) 17:19
Outubro, 03, 2010. Domingo.

      “Mundus vult decipi; ergo decipiatur” (Petrônius) 

Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado! (Pessoa)

“Então eu descobri que os seres humanos não mudam porque estão desperdiçando sua energia, não mudam porque estão exercitando sua vontade, que eles julgam ser extremamente nobre, o que é chamado de liberdade de escolha. E, além disso, eles não sabem o que fazer com ‘o que é’ e, portanto projetam ‘o que deveria ser’, e talvez também porque aquilo, o nirvana, a Moksa, o paraíso, é muito mais importante do que ‘o que é’. Esses são os bloqueios que impedem os seres humanos de mudar, essa é a razão porque não transformam radicalmente a si mesmos. Se vocês compreenderam isso profundamente, com seu sangue, com seu coração, com todos os seus sentidos, então vocês verão que há uma transformação extraordinária sem o menor esforço.”(Krishnamurti).

4h. Dia inútil. À tarde, feijões pretos e arroz à carreteiro. Nada de pedras ou noite nas grutas. Eleições e justificativas mais tarde. Estou completamente alheio a este sufrágio inútil. Seis gatos preguiçosos pela casa, quatro cachorros neuróticos. A cachorrinha já está enxergando melhor e livre de carrapatos. Ontem, blues e uma noite devassa, novamente com a senhorita (...).

Sexta passada a cidade parecia invadida por sonâmbulos agitados. Esvoaçavam perigosamente nos carros ou pelas calçadas, um movimento fora do normal, clima tenso e pesado. Não é mais, há muito tempo, a mesma cidade aonde vim morar em 95.
Prefiro a palavra “ocultista”. Um “ocultista cético”, assim perco minhas definições. Em que acreditar? Há sentido em acreditar? A coisa – em – si é inatingível, dela temos construções, ilusões. Mas é um minúsculo fragmento desta coisa, do universo, que “ilusiona”. Com meus sentidos, atinjo uma ínfima parte do todo, aprendo a me mover nele, crio um universo particular. Formo um painel virtual e nele me desloco.

Nada de errado neste processo, todos os seres assim o fazem. Virtualizam assim seus mundos. O único ato criativo nisso tudo é a interpretação. Creio nesta construção, transformo-a através de meus conceitos e condicionamentos, crio assim minha atmosfera existencial. Uma estreita faixa de condições onde posso agir conforme um vivente. E aí se desenrola meu processo, até a morte. Sobrevivo sendo jogado pelos impulsos, tolhido ou estimulado pelos condicionamentos e pelo medo, sempre à mercê de correntes profundas e desconhecidas. Crio a ilusão de ser algo, uma individualidade, independente. Humanizo-me dia a dia, cada vez mais à mercê das profundezas que não vejo.


Ser ocultista é justamente tentar conhecer estas profundezas, as coisas que realmente movem nossas existências. Inicia-se com uma mortal quebra de paradigmas. Sei que, em essência, isso não é assim, e que deve ser vivido de outra forma.
Primeiramente, somos tidos como excêntricos ou até loucos, incompreensíveis e perigosos para o próximo, na verdade. Temem algo em nós. Desconhecem a direção de nossas atitudes, de nossos ventos. Ignoram o caminho que começamos a seguir, um caminho que, no íntimo, causa-lhes horror. Como se nossas atmosferas precedessem nossas escolhas, pois sempre fomos tidos assim, sempre fomos vistos como, no mínimo, esquisitos. Essa coisa é sempre percebida pelas pessoas, muitas vezes antes de nós mesmos percebermos.
O velho Krishnamurti há muito, literalmente, quebrou meus dias (nem tão comuns) de outrora. Nunca mais fui o mesmo após a leitura de uma de suas palestras (não me recordo qual) trazida, certa tarde, em xérox, pelo meu pai. A partir de certo dia, então, começamos a perceber melhor este mundo de ilusões, e creio que cada ocultista teve lá seu “Dia D”. Talvez Weill prefira o termo “mutante”, o que acho também correto. Esta coisa, esta diferença, sempre esteve conosco, precede nossa existência.

O que traria de mais recente: o Krishnamurti que se fixou em mim, que construí, deve morrer. O Mestre foi sempre bem claro em seus escritos, os discípulos sempre corrompem a obra. O “mate o Buda” do Zen. Compreensão de existir-se como passagem, do ônus daquilo que é ilusória e perigosamente retido. O crente não louva deus, louva seu deus, sua projeção, portanto. Cria uma falsa garantia com isso, é movido pelo medo, foge de sua impermanência. Pactua garantias com a coisa, negocia com o universo, escondendo-se da verdade em si. Verdade que não quer perceber. A sua grande mentira.
A quebra de paradigmas tão queridos pelos outros faz-nos perceber verdades incômodas, perigosas ao status quo desta existência de zumbis. Mais distantes das mentiras, nossos caminhos vão a direções completamente desconhecidas pelos demais.
                                                                                      * * *

Amanhece mais um dia. Fome. Penso em ir às pedras, buscar algumas fotos, (dês-)-pensar talvez o dia.

                                                                                      * * *

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