domingo, 29 de janeiro de 2012


 el Lunes, 12 de septiembre de 2011 a la(s) 1:19h


   



      
    
                                                                                                                                                                                                           Desabafo? Não sei. Talvez deixar que alguns pensamentos caiam sobre o papel e tomem forma, deixar que ganhem o mundo e pronto. Daqui do meu exílio, restam-me apenas garrafas de mensagens ao mar.



         

Habito uma terra sem esperanças. Ilha perdida ao meio de águas insensatas. Ilha que aos poucos dilui-se, encolhe. Tempos cruéis e insanos.




       
   Também habito com uma gigantesca população de avestruzes. O tal lado "avestruz" dos humanos, a cabeça enterrada no chão para que não vejam, não enxerguem. Mortalmente expostos ao inimigo. Não gritarei para perturbá-los em seus sonos mortais, seria insensatez de minha parte.

          Eis-me cá diante do mundo. A ele pouco importa o que penso ou (des-)penso. Continuará em seu movimento de Kali - yuga, ceifará cabeças porque tem que ser assim. Minha desesperança concentra-se mais na irreversibilidade das coisas, na impossibilidade do movimento de frear este suicídio coletivo. Estamos em tempos irreversíveis. O olhar que se dirige para o além vê principalmente dores e trevas. Os antigos já intuiram isso.

          Habitar esta pobre casca sem esperanças de mundo. apenas o interpreto. Não o criei, não elegi seus padrões e movimentos. E por enxergá-lo um pouco mais, tenho as minhas defesas. Quando uma verdade começa a ser compreendida, ela deixa de ferir a alma.
          ...
          Certa vez, uma grande amiga (e diretora de um grande hospital onde trabalhamos juntos por sete anos) me perguntou como era possível alguém chegar todos os dias em um ambulatório e sem esperança alguma... Carrego esta pergunta até hoje, cada escrito que me cai ao papel tenta respondê-la um pouco mais. Mas há e sempre houve amor naquilo que exala de meus ambulatórios, não posso negar. Um amor que brota até nas terras mais inóspitas e imundas destas esferas. Que não depende de sonhos, esperanças ou avestruzes. Ele apenas está ali, renasce ali, alimentando-se de mistérios e sempre brotando.
          ...
        
  Estranho isso... Se fosse um ateu, teria me suicidado entre drogas e prazeres divinos. Se existisse como um crente, suicidar-me-ia pela morte de meu deus, um deus de papel e repetitivo... Tudo me parece intenso neste campo, neste duelo. Se me existisse agora  um pessimista, adoeceria amargo, infartaria cirrótico e demente. Sendo otimista, seria cego. Se pensasse inocentemente o mundo como um jardim, o destruiria com minha podre insensatez. Mas pensar este mundo como um dos infernos... Que modelo hipotético libertaria a alma mais do que este? Confesso que foi preciso todo um trabalho para conseguir habitar um inferno sem ilusões. Infernos não  opostos de jardins, são opostos de céus, lugar repleto por excelência de mortos felizaes. Infernos abrangem viventes em dor, mas viventes do aqui - e - agora.
          ...
       
   Céus... Como poderia ser inexistencialistamente egoísta e pensar num estúpido e disfarçado céu, enquanto partes humanas minhas ainda sofrem e se despedaçam por aqui? Prefiro ficar neste aqui e doer, lutar por aqui enquanto ainda um só vivente for meu irmão de inferno. É como se desejasse a última hora, ser o último a sair daqui. Algo meu sempre voltará, sempre retornará sem medo enquanto este fogo arder sobre almas. Pois nunca faltarão canetas, penas, nanquins e papéis enquanto este mundo arder sobre almas, em dor.
          Nunca faltará a matéria mais íntima destes escritos, como não faltarão bares, corpos e copos. A sublime devassidão só não liberta crentes, os que se culpam por culpa nenhuma. Qualquer movimento liberta se for, em essência, doação ao desconhecido. Se for autêntico e livre.

          21h38min. : Verdades estranhas descem com os escritos aqui neste bar curioso e sem almas. Vontade de passar a noite por aqui extraindo escritos deste uísque duplo com ventos, lua cheia e alguns humanos por perto. Mas o elástico tem que voltar, temos limites.
...

          Minha pequena felina de tres cores aguarda em casa seu jantar. Deve estar agora andando pela casa em busca de meu cheiro, meu calor e nossas dores. Temos agora, neste sórdido e fascinante universo, apenas um ao outro. Isso há muitas noites. Doce e curioso encontro entre duas almas pertencentes a gênero e espécie diferentes, primatas e felinos. Digo que isso faz crescer certo amor por "estar-para-o-mundo", portanto, para a morte. Sou um condenado feliz.

...

          22h11min.: A vida eterna habita bíblias, al corões e tao-te-kings, além de mahabaratas. E nas mais absurdas invenções humanas. Não queria um céu de papel.

          Nada quero, mas a vida habita-me ainda. Quer habitar-me. Que posso fazer? Ofereço a ela meus morcêgos (que já beijaram minha testa), meus cemitérios com muros e asas negras, e ela surge mais uma vez como lua cheia, ela se apresenta às minhas lentes indiscretas... ela me apresenta sempre os amores mundanos e profundos... Não, eu não a trairia... Que posso faze? Que posso fazer diante de algo soberbo e que nunca respeita convenções? como poderia viver e escrever diferente?

... À minha alma mais profunda, e mais devassa... sempre...

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