segunda-feira, 21 de maio de 2012

Casas.I


..... Gripe infernal há dois dias. Sempre a sinto chegar antes. O humor baixo, aquela depressão sem tristeza, depressão regada a tédio, uma compulsão pela horizontal (mas imóvel). O Corpo percebido num caos que nenhum humor suporta, nenhum humor respira por aqui. Desta vez as "sombrias visões de mundo" não invadiram completamente o campo existencial, apenas mostraram suas presenças. Insuportáveis.

..... Nenhum remédio possível. Não me importa a tosse (simplesmente tusso). Nem a febre (não mata nem me traz convulsões, passei há muito da idade). Ou a "quebradeira" no corpo (para isso, colchões). Mesmo acalmando a dor de cabeça com uma dipirona, nenhum remédio possível. Nenhum remédio irá recuperar o humor. Aquela energia de base que coloca-nos mais próximos do mundo.


..... Nada posso fazer então. Com imensa dificuldade, coloco-me no lugar do observador. O "muco", da Medicina Tradicional Chinesa, invade os pulmões, os músculos, tornando tudo pesado, úmido. Os pensamentos invadem o campo psíquico com o mesmo timbre úmido e negativo, escorregam para fora com dificuldade, dando lugar a outro bolo estúpido de pensamentos. Difícil silenciar assim. O campo dos pensamentos adoecidos invade, torna-se inevitável, quase soberano. Ao menos vivencio isso. Como uma barreira mucosa ao "prana", ao ar que nos movimenta, o "vento". Tudo nublado, estagnado por aqui.

..... Percebo na pele o quanto pode fazer um corpo doente pelo campo psíquico. O quanto nosso "vetor" depende da estrutura física, seu estado. Penso nos comedores de "fastfoods" e refrigerantes, de enlatados, obesos, mucoides, "enxaquecados"... Penso em nós mesmos, os intoxicados pela alimentação, pelo stress, ou por mesmo uma estrutura psíquica triste. Penso nos cigarros e garrafas que tanto consumi até há algum tempo atrás. Existimos e pensamos tudo aquilo que comemos, que ansiamos, que fumamos, tudo aquilo que sofremos.

.... Penso em algo de dupla via. O psiquismo sabotado pelo boca e a boca sabotada pelo psiquismo. Como um padrão, inconscientemente, sempre tentamos manter e representar um padrão. SOU O QUE COMO E COMO O QUE SOU.


..... A "Casa dos Mucos". Observo-a. Mais uma casa possível, onde me materializo às vezes. Também um "foco percepcional", também uma janela por onde entra o que penso do mundo. Uma possibilidade, um lugar da percepção. Quarto de onde pensam os adoecidos do corpo em fase aguda. Suas pequenas e escuras janelas confundem a luz que chega de fora, colocando-as junto às sombras mucoides que escorrem (assombram) pelas paredes.

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