terça-feira, 15 de maio de 2012

Tarde

14.05.2012: 17h47min.

     A "estranheza" chegou mais forte por volta do meio dia, mas iniciou-se com os atendimentos, pela manhã. O "pano sonoro" de fundo mais intenso (quase a zumbidos), o corpo naquela sensação de não se conter, mas cochilamos ao meio dia numa estranha presença. Apesar de um dia "afetivamente" triste, tudo correu tranquilo. Alguma leve impaciência ao final da tarde.
     
     Pessoas presas em suas densas cadeias egoicas a sofrer (sofre-se de "vida"). Depressivos cristalizados em suas próprias tristezas e lentidão. alguns ansiosos que, como eu, mal sabem o que fazer (ou não fazer) do cérebro (agradeço ter apenas um). Um jovem resolveu hoje expressar sua carga estrutural esquizofrênica, a exemplo de seu pai.

     O que dizer às pessoas atoladas em si, em suas teias de sofrimento, estagnadas, estáticas, entupidas de calmantes e anti - depressivos? Na maioria dos casos a vida tornou-se uma séria patologia.

     Olhava-os, de certa forma, como se nunca os tivesse visto antes. E do mesmo fosso existencial, das mesmas trevas. Mas leve, muito mais leve. Ao menos o humor e a simples escuta fizeram alguma diferença, aliviando em muito o que recebo na troca.

     A noite cai subitamente deste o começo da caminhada. Precisava caminhar, andar rápido, muito. Aqui na praça o vento ainda é quente e poucas pessoas transitam, Mundo que escoa denso, estes últimos quatro dias foram extremamente densos em essência, estagnados. Como se tudo retrocedesse ao íntimo. Alguns místicos falaram em estranhas energias transitando por aí, mas elas transitam em mim por estes dias. Devo estar ficando velho.

     Muitas vezes estive nesta praça a fotografar, escrever, beber vinhos, a velha praça dos Prazeres. Mas é como se estivesse aqui pela primeira vez. Estranho escrever recebendo o ruído dos carros e das pessoas, o distante e presente murmúrio da cidade.Esta é minha realidade, meu agora, o único momento que disponho, único palco existencial. Mesmo escrevendo a "coisa" aproxima-se em ondas de um perturbador e suave alheamento.

                                     

   


   
   

3 comentários:

  1. Bom, não imagino o que seja essa "coisa" , mas se for algo ruim, vamos ao lado mistico : uma forma ovoide branca envolvendo todo o corpo , criada mentalmente, que impede a entrada de "energias" ruins. É fato ? Não é ? Não é essa a importancia, mas sim que pelo menos estamos atuantes, não apenas "entregues", seja de qual forma for. Sobre fortalecimento do ego pelo sofrer: as vezes a solução pode ser mui simples: "Qual seu dom mesmo ?" - "Basta segui-lo ! Deixe seu ego de lado e siga seu coração! " - é a base para muitas depressões deixarem de existir, pq não dá pro ego ser forte o tempo todo (daí a depressão surge...) contra a voz do coração. Certa depressão, a meu ver, é a voz interior,do coração, que avisa e machuca o ego.

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  2. ... Gosto da palavra "coisa", mais curto que "inominado". Muitas vezes a consciência consegue aproximar-se do "ponto", do agora - e isso causa uma estranheza interessante, os sentidos parecem mais despertos, abre-se um certo espaço - como se meditássemos. Talvez este estado, energeticamente, proteja, envolva - Sei que muda a configuração energética. Isso deve ficar mais profundo, mais e mais.

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  3. Quanto ao "ego"... sinceramente, vejo tudo como abstrações necessárias, modelos hipotéticos, "ilusões educadas". Não há uma entidade chamada "ego" a me sabotar, mas o processo funciona como se houvesse. precisamos,ao início - e depois para explicar, destes modelos hipotéticos. Basta sentir quando um impulso irracional chega, ou bate a ansiedade, ou a tristeza... sentir, sem nomes, nada podendo-se fazer, nem julgar...

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