quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dos Modelos

     

  Para podermos enxergar nossos cones e bastonetes devem estar limitados a um certo espectro de ondas luminosas. Devem ser capazes de modificação eletroquímica apenas num certo espectro de luz. O mesmo ocorre com nossa audição e os demais sentidos. Exatamente destacando de um "todo" hipotético a parte que mais interessa, uma seleção puramente utilitária. Muitas outras frequências de luz e de sons existem e alguns animais conseguem até captar frequências acima e abaixo destes limites.


          Digo que o conjunto de todas as frequências de luz ou sonoras são infinitas. Parto da observação de que um segmento de reta possui infinitos pontos. Poderíamos identificar infinitas frequências de onda num espectro qualquer destas. E não sabemos, por outro lado, os extremos deste espectro.

          A primeira frequência seria   a própria respiração do universo, seu ciclo de implosão - explosão, contração - expansão. A cada, digamos, hipotéticos quatrilhões de anos, uma onda. Poderíamos acompanhar esta escala, talvez outros ciclos de trilhões de anos, de bilhões de anos, milhões... De dias, horas, aí adentrando aos espectros do som e da luz. Interessante pensar que todas estas frequências originam-se  da frequência original, do hipotético pulso de "quatrilhões" de anos. Pois tudo começou a ser configurado nesta explosão, neste ciclo.

          Considerando o pensamento como um "sentido", como isso funcionaria?

          O "psiquismo", a "mente", esta coisa funciona como um campo energético dinâmico que se modifica na presença de diversos outros estímulos, energias. Desdobra-se em "sentidos", portas seletivas onde as modificações iniciam, modificam. Recebo toda uma carga de sentidos e os integro, recheando-os de afetos, significados, associações. A visão seleciona o campo da luz, a audição dos sons (campos estes contínuos, diferenciando apenas nas frequências). Propriedades moleculares (que são também vibrações) adentram por meu paladar, olfato. A qualidade destes estímulos me é formada nas associações destes, em sua integração. A dor, por exemplo, dor física. Um tecido é ameaçado de destruição (uma fonte de calor ou algo puntiforme tocando a pele). Sem nenhum pensamento me surgem reações fisiológicas de evitação (retirada do membro) e, em seguida, aquilo me vem como "desagradável", desarmônico, causador de sofrimento. Então percebo sua origem, sua causa. Julgo, de certa forma. Creio que aí nasça o pensamento. Ele não recebeu os estímulos dolorosos da pele, ele não foi criado nos receptores álgicos ou térmicos, ele surgiu segundos depois. Ele captou a impressão, as impressões registradas em meu "painel mental associativo". Diria que o pensamento nasce em um patamar "acima" (ou "mais interno") dos sentidos ditos fisiológicos. Mas os funde em uma estável configuração de representações.



          Neste modelo hipotético o pensamento funcionaria como um "sentido", mas num plano interior,baseado nos outros sentidos e livre destes, independente, de certa forma. Exatamente como se pertencesse a um "corpo" mais sutil. Ele trabalharia como uma ponte entre meu "corpo psíquico" - o "corpo das percepções" e minha consciência. Como uma "Função Integral", da álgebra. Apresentaria à consciência a "curva geral", seu formato e direção, oriunda de derivações múltiplas (informações dos sentidos). Cada sentido me daria um ponto desta curva e o pensamento funcionaria como um delimitador da forma geral. Esta modificação me chegaria à consciência, o painel geral, a integração destas funções de derivação.

          A Consciência começaria por confundir-se com um conjunto de pensamentos centrípetos, mas ela não seria um sentido. A "fronteira" entre a consciência e os sentidos captados seria o pensamento. A consciência desdobra-se disso, dos pensamentos, mergulhando sobre sua origem, uma transcendência típica. Pensamentos são informações afetivamente carregadas, com um sentido, transportadas para uma região que desdobra-se sobre si mesma. Uma região que funcionalmente nasceria com o pensamento, mas o transcende. Integra. Múltiplas Integrais.

          Um movimento físico-químico selecionado, modificando meus receptores fisiológicos, vai ser integrado a outros movimentos selecionados paralelos. Juntamente com as modificações fisiológicas causadas no organismo como um todo (como a descarga maior de adrenalina causada pela dor, ou o sono de um estímulo repetitivo), estas informações serão transportados, associados, formarão uma espécie de "vetor" (movimento puro). Cria-se uma entidade definida e mais estável a que denominaria "pensamento". A consciência então engloba este processo, como uma modificação em nosso "campo mental". Por fim, isso tornar-se à consciente se for tocado pelo foco de minha consciência, se não funcionar como os "estímulos subliminares".

          O sentido fisiológico, quando passa a existir para mim, o entendo como um vetor, uma representação organizada e intencional de movimentos. Espalham-se pelo meu "campo fisiológico" a despertar reações imediatas (em relação à consciência), como um reflexo de retirada, um aumento de adrenalina etc. O pensamento seria a "primeira integral" destes vetores, um vetor "de segunda ordem" neste processo. Configuraria este conjunto de movimentos a nível psíquico, seriam a representação psíquica dos sentidos fisiológicos. Uma "terceira integral" faria movimentar a consciência.



          Diria que a consciência pode (e deve) diferenciar-se do pensamento, distanciar-se de seu nascimento funcional, "presenciar-se". Como parecemos sofrer de uma "hipertrofia do pensamento", nossa consciência ainda centra seu foco nas operações do pensamento. Isso é a essência da meditação. Não realmente uma pura e simples separação, afinal estes processos todos estão integrados. Mas uma diferenciação. Um destacar-se. Voltar seu foco sobre si mesma. Aonde chegaríamos com isso? Sempre parto de que tudo são portais, vias para um movimento, transformações. A Consciência, enquanto a confundir-se com pensamentos, deixa de perceber-se como também a via de passagem para um movimento. Ilude-se ao acreditar que constitui uma entidade separada, que configura entidade. "EGO", como chamam esta errônea percepção. Como um verbo acreditando ser um sujeito - e um sujeito não passa de um verbo estagnado. Acreditar-se um ego é viver uma bela estagnação. Mas o que passaria por esta consciência se devidamente ajustada? Nada poderia dizer com precisão. Prefiro a palavra "REALINHAMENTO". Realinhamento ao restante de todo o processo. Nasce aí o Misticismo, então.
         

         

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