domingo, 17 de junho de 2012

Entre as Ruas de Um Tempo



          Andava por este vilarejo à procura de um bom vinho, suas ruas estreitas e ensolaradas movidas pelo vento e o estrondo das ondas próximas. Sensação de estar distante de tudo, de qualquer conversa profunda, qualquer ser, qualquer momento de alma. Os passos na areia, a sombra que insistia em estar ao lado. Vazio. Mas nenhum desespero. Lembrava-me de lugares e pessoas que existiam e que habitavam meu peito, mas distantes o suficiente para me calar. O silêncio me seguindo pelas ruas e vielas. Mas os exílios são assim. Passamos também por estes dias, faz parte, talvez já estejamos acostumados. 

          Como se as notas desta música tocassem a alma de outros distantes irmãos de exílio, uma sensação estranha de ligação e dor explodindo a cada passo (e a cada nota). Nenhum desespero. Continuamos com os passos e as notas e tudo parecia tão antigo... Como num velho filme em preto - e - branco (aqueles ruídos e cortes, imagens embaçadas e apenas a música nítida). Não era a distância nem o tempo, nem eram nomes ou histórias. A pura ligação dirigindo-se para fora destes tempos e espaços. Talvez estes ventos sejam comum em certos exílios. 

          Sim, o peito reage com esta percepção, o baque, mas ele deve se mover como os passos e a areia. Olhar as pessoas distantes que passavam próximas, seres de um outro filme, um outro mundo, outras prisões e músicas. 



          Saborear lentamente este carmenere ordinário  traz-me a sensação de estar compartilhando o momento com estes ilustres e distantes ausentes, como se neste momento sentissem o mesmo gosto desta bebida  e as notas do piano. Saúdo-os. Seres próximos que não couberam neste meu pequeno pedaço de existência, que não conheci... Outros que simplesmente estão distantes. Nem sei em que planos ou terras. Ou se noutras praias de ventos e ruas estreitas. Apenas comungo o que se traduz por isso, este compartilhar triste, esta vaga ideia de irmandade e desconhecido, exílio e vida. Tudo resumido neste agora.

          Mais um por de sol num domingo, céu limpo com aquele jogo de cores único, estamos aportando na noite. Presenças que desconheço acompanham esta morte e este renascimento nas trevas, esta luz que sempre brilha por si, como um amontoado de pequenas chamas longínquas. Bom sentir isso daqui. sem nenhuma outra opção, apenas isso, este jogo todo de imagens, afetos, dores, estranhezas. E alguma paz.

          

         

          
          

          
          
       

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